Podemos observar, através de seus escritos, que tanto a homossexualidade, quanto a heterossexualidade, são resultados de caminhos pulsionais, fazendo com que uma seja tão legítima quanto a outra. Segundo Freud, é a partir do complexo de Édipo, baseado na bissexualidade original, que a “escolha do objeto” vai constituir-se, pois em todos os seres humanos desde o inicio da vida encontramos, ainda que no inconsciente, investimentos libidinais homossexuais e heterossexuais. Para Freud (1905), os homossexuais não possuem nenhuma qualidade especial que os torne um grupo à parte do resto da humanidade.

Só que o ser humano não gosta do empírico e do abstrato, ele gosta de duplo-cego, de pesquisas científicas… 

Um estudo realizado pelo Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) revela que a criação e educação de crianças por casais gays não causa perda psicológica nos filhos – a função psíquica materna e paterna pode ser exercida por duas pessoas do mesmo sexo. As informações são da Agência USP de Notícias.

De acordo com o autor do estudo, o pesquisador Ricardo de Souza Vieira, a estrutura familiar e o desenvolvimento da criança não estão vinculados com a orientação sexual do casal, mas, sim, com o desejo de ser responsável por uma criança.

- As relações de responsabilidade dos pais e da criança com os adultos, que definem a estrutura familiar, não sofrem alterações. As funções psíquicas são o que realmente importam para o desenvolvimento de uma criança, e elas estão descoladas do aspecto anátomo-fisiológico do corpo.

Segundo ele, em um casal formado por homossexuais, tanto a função psíquica materna — mais próxima da criança e responsável por ensinar a linguagem e por cuidar e proteger com mais intensidade — quanto a paterna — que limita a proximidade da criança com a mãe e tem a função de determinar limites e leis – podem estar ou não presentes. Mas isso também ocorre dentro das famílias de casais heterosseuxais.

- As funções de parentesco são mais simbólicas do que biológicas.

Segundo o pesquisador, as crianças não sentem a necessidade de possuir uma mãe, do sexo feminino, e um pai, do sexo masculino, pois as funções psíquicas desses “entes” já estão sendo exercidas por duas pessoas do mesmo sexo.

- Não há regra geral, a criança costuma criar diferentes formas de nomear os pais, como: pai X e pai Y ou mãe X e mãe Y. Raramente uma criança chama um de “pai” e outro de “mãe”.

Segundo o pesquisador, a maneira como a criança percebe, valoriza e qualifica a realidade depende de como os pais transmitem sua própria maneira de entender essa realidade.

Deve-se chamar atenção para que a Psicanálise não trabalha com o genético, disto isto, é possível que na singularidade de um determinado casal homossexual, um funcione como aquele que vai oferecer ao bebê como o objeto de desejo incestuoso – o que vai pegar no colo, dar banho, mamadeira – e o outro vai funcionar como o interditor, conclui-se que de fato ainda não há tempo de observação para se possa responder a essa questão. Porém a intedição ocorre de formas distintas nas diferentes estruturas sociais, No caso de uma mãe solteira, por exemplo, o Édipo vai se construir na figura masculina que ela tem dentro dela, no pai, no avô. E no caso de um casal de lésbicas, a construção do Édipo vai se dar na pessoa que desempenha a figura masculina, muito mais do que na pessoa em si, a construção do Édipo se dá na função exercida.

A Reflexão sobre casais homoparentais passa necessariamente pela compreensão do ser humano, independente da sua anatomia, tem uma possibilidade bissexual intrínseca que pode ser exercida, condição muitas vezes exploradas por crianças de ambos os sexos – o que ocorreria em um contexto em que pensam as leis civilizatórias, os costumes, de cada cultura. Quando você transgride muito uma certa lei organizadora, de um certo caminho civilizatório, as consequencias podem ser muito grandes, como um pai que tem relação sexual com sua filha ou uma mãe que tem relação sexual sexual com um filho, é um exemplo.

Neste sentido, a transgressão ocorreria também em casais heterossexuais e não apenas em casais homoparentais. Deve-se analisar, por exemplo, se o casal está bem estruturado, psiquicamente organizado, se ele sabe lidar com as diferenças e se ele não determina que a criança tem que ser como ele é. Não acho que a questão esteja na homoparentalidade, mas na maneira como cada um é estruturado. É uma questão de como se com a diferença, com a alteridade, com o reconhecimento do que o outro é diferente de você, mesmo que seja um filho que nasceu de você.

Entretanto, não se trata de diminuir a complexidade da questão. Há consequências? É lógico que sim. Provavelmente em uma sociedade onde o mais natural – se é que a gente pode falar em naturalidade, pois desde que o homem entra na civilização a natureza dele tem a ver com a tradição, valor e leis civilizatórias – tudo que foge disso gera um questionamento, causa uma polêmica e o individuo terá que fazer um esforço para dar um senti a situação, para se referir aquilo, aquela situação, de uma certa maneira.

Embora a interdição, do conflito, seja uma realidade na cultura e, portanto, atual, Celmy Correa, Membro efetivo da SBPRJ e psicanalista de criança, lembra que o conceito do complexo de Édipo é datado, uma vez que foi descrito por Freud com base na família burguesa do século 19. Ela Afirma que para o Édipo, e de forma geral para a psicanálise, os conflitos de a ambivalência são muito importantes na medida em que são questões humanas

Se por um lado as novas organizações familiares modificam a forma de manifestação do Édipo e alteram de certa maneira alguns conflitos humanos, por outro, é preciso ressaltar que não existem estudos que demonstrem modificações na sexualidade, agora entendida como manifestação das opções sexuais, em crianças criadas em diferentes formas familiares. “Não necessariamente uma criança criaa por esse casa homogenérico terá sua sexualidade prometida ( homossexualizada ) ou “pervertida” ( invertida no sentido da “normatização cultural )”, afirma a especialista.

Julia Vilhena, Psicanalista explica sobre a homoparentalidade que ” a homossexualidade feminina é muito mais permitida do que a masculina, é mais fácil para um casal de lésbicas adotar uma criança do que um casal de homossexuais homens. Isto porque a homossexualidade masculino é frequentemente associada a pedofilia”, explica.

A analista Ana Maria Bittencourt defende que a homoparentalidade ainda é má vista pela sociedade, pela religião, pelo jurídico pois “representa uma ameaça ao tradicional, ela quebrou a nossa tradição de pai, mãe e filho”. E pontua: ” a homossexualidade não é uma categoria e não se pode patologizá-la”

Portanto do ponto de vista Psicológico e Psicanalítico não há nenhum problema no desenvolvimento de uma criança, uma criança criada por lésbicas ou por gays não irá desenvolver uma orientação sexual homossexual necessariamente, ela irá correr os riscos das escolhas inconscientes ( os 10% ), ela não irá sofrer danos psicológicos ou psiquiátricos como alguns dizem. O Papel da família é simbólico e não anatômico.

Felipe Resende, Psicanalista.